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16.7.03

Oliveira Martins 

O historiador e sociólogo Oliveira Martins foi um dos mais constantes paladinos da causa colonial durante o período final da monarquia constitucional [leia-se, p.ex., O Brazil e as Colónias Portuguezas]. Em jornais da época, «O Tempo» e «O Repórter», assinava regularmente colunas de opinião em que a temática dominante, naqueles anos que antecederam o Ultimato inglês (1891), era a causa colonial. Preocupava-o sobremaneira o modelo de gestão económica das colónias ou, para utilizar uma expressão devidamente situada no seu tempo, a «exploração económica do Império». Em meados de 1889 o governo britânico acabara de autorizar a carta constitucional da British East African Company. Oliveira Martins, como o governo português e todo aquele grupo de pressão colonial que se reunia em torno da então recém constituída Sociedade de Geografia de Lisboa, estava ciente de que aquela companhia britânica ameaçava directamente os interesses portugueses na costa oriental africana. Entrevia, contudo, grandes vantagens no modelo da British East African Company , defendendo que a resposta portuguesa aos avanços britânicos na África Oriental se deveria processar nos mesmos moldes, cometendo a associações de interesses privados a exploração económica das colónias:
«Este processo de confiar a preparação do domínio político regular à iniciativa particular do comércio, deu bons resultados, sempre que circunstâncias acidentais o não impediram. [...] Quando, no primeiro quartel deste século, a Companhia das Índias foi abolida, a administração oficial inglesa achou de pé uma organização completa. Substituiu-se-lhe. A lição da história aprova, pois, a instituição de agora para África: ponto era que a mesma lição nos servisse à rebours. Vendo que a nossa Índia ficou reduzida perante a inglesa, cumpriria prevenir em África a repetição de factos idênticos. Como? [...] Como quer que seja, o facto é que, se não se conseguir rapidamente a consolidação do nosso domínio sobre alicerces sólidos de interesses, nós, agarrados aos pergaminhos dos tratados, vê-lo-emos tornarem-se palimpsestos onde, sobre os textos apagados, hão-de escrever-se novos diplomas. [...]
Essa companhia é, como todas as companhias congéneres que lhe serviram de molde, mais do que um Estado segundo as noções civilizadas da actualidade. É mais, porque todas as regalias soberanas se subalternizam ao princípio visceral do comércio. É um Estado comerciante: daqui uma energia e uma actividade correspondentes à força do princípio vital do comércio, que é o lucro. Se na África tropical é possível o estabelecimento de impérios, o caminho indicado pela história para o conseguir é este. Os negociantes são propagandistas muito mais eficazes do que os funcionários. Dar ao comércio foros políticos foi o princípio que serviu sempre para avassalar e dominar regiões bárbaras».

[O Repórter, 21 de Setembro de 1889]

Tanto denodo na defesa da magnitude das companhias majestáticas só poderia provir daquele que era, desde o ano da formação da «Companhia de Moçambique», um dos seus administradores em Lisboa: Joaquim Pedro de Oliveira Martins.

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